A menina que aprendeu a se calar
Durante anos, vivi como uma casa de vidro num campo de tempestades.
Por fora, tudo parecia intacto. Mas por dentro, cada rajada de vento deixava um estilhaço novo nos cantos da alma.
Eu aprendi cedo que ser amada era sinônimo de não fazer barulho.
Aprendi a ser aquela que encolhe a própria dor pra caber nos silêncios alheios.
Aquela que lê o ambiente como quem lê um mapa: se ele estiver carregado, finjo leveza. Se ele estiver triste, viro palhaça. Se ele estiver cansado, desapareço.
Fui me tornando especialista em não incomodar.
Em colocar os sentimentos numa caixinha, lacrada com fita adesiva, etiquetada como “depois eu vejo isso”.
Mas esse “depois” nunca chega.
Crescer com medo de desagradar é como viver andando na ponta dos pés dentro de si mesma.
Você não pisa firme, não ocupa espaço, não fala alto.
Você se molda tanto, tanto... que uma hora não lembra mais da forma original.
Até que um dia o corpo fala: em forma de nó na garganta, enjoo, insônia, choro que não tem hora marcada.
É a alma tentando gritar por aquilo que foi silenciado por tanto tempo.
E aí vem o susto: o outro não entende.
Acha que você está exagerando.
Acha que discutir é criar problema.
Acha que vulnerabilidade é drama.
Mas o que poucos enxergam é que colocar limites não é falta de amor — é a única forma de amar sem se perder.
Relações sem conversas difíceis não são relações leves, são relações superficiais.
E eu cansei de viver na superfície.
Eu quero mergulhos verdadeiros, onde possa tirar a maquiagem da alma e ainda ser amada.
Quero alguém que me ouça mesmo quando minha voz estiver embargada.
Que não se assuste com o fato de eu sentir demais — e que, no mínimo, não me faça sentir errada por isso.
Não quero mais encolher minhas asas pra caber no peito de ninguém.
Hoje, escolho olhar pra minha menina interna e dizer:
"Você pode falar. Você pode sentir. Você pode ser. E, ainda assim, será amada."
Se você se reconhece aqui, saiba:
Você não é intensa demais.
Você não exige demais.
Você só quer um espaço onde ser inteira não te custe a paz
Carol, escreva um artigo sobre relacionamento (principalmente os difíceis) com as mães. seria muito interessante saber sobre na visão de uma psicóloga. 💖
Uau! Me identifiquei demais, em uma escala muito grande. Acho que hoje sou um pouco menos assim (vamos aprendendo a não segurar tanto) mas essas palavras ainda falam muito comigo. Quero ler mais textos assim 🙂