Talvez eu não tenha sido só a ferida.
Talvez, em alguma história, eu fui a própria faca.
O ser humano tem mania de se contar sempre como vítima e muitas vezes, é mesmo. Mas também somos herdeiros de dores que viram espinhos, e às vezes machucamos sem saber. Às vezes com raiva. Às vezes por defesa. Às vezes por repetição.
E se eu fui a vilã?
A que não ouvi. A que julgou. A que se afastou quando era hora de ficar.
A que cobrou demais.
A que usou o silêncio como castigo.
A que se protegeu demais e não percebeu que machucava no processo.
Não é a toa que sempre estamos falando:
A gente aprende com nosso erros
Na psicologia, a ideia de vilania não é moral. É relacional.
Somos feitos de experiências. E quando a dor nos molda, às vezes nos tornamos afiados em palavras, em reações, em distâncias.
Mas a consciência é o início da cura.
Assumir que se foi vilã é um ato de amor, chega ser de amor próprio.
É sair da narrativa simplificada de vítima algoz e habitar a complexidade da humanidade. Porque estamos sempre tentando nos explicar, fazendo um esforço gigante para sermos compreendidos e, mesmo assim, às vezes ninguém está disposto a ouvir nossa versão. Porque já compraram nosso papel de vilão, e me afogo nessa ideia até perder quem eu sou e o que mais importa: nossos valores e nossa consciência. Errar é humano sim, não significa que devemos "passar pano”, mas entender e ter responsabilidade do que fazer a partir dos nossos erros. Inclusive não define o que nós somos, apenas um momento que erramos, possivelmente por conta de inconsciências de comportamentos automáticos ou crenças totalmente distorcidas que a gente nem sabia que carregava.
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava provar nada pra ninguémQuase sem querer - Legião Urbana
Não se trata de culpa.
Se trata de responsabilidade afetiva.
De saber que machucar alguém, mesmo sem intenção, também exige reparo.
E o perdão dos outros e de nós mesmas começa com a coragem de reconhecer. Para muitos o reconhecimento é o mais difícil. Eu sei chega a ser imaturo e doloroso saber que erramos ou injusto quando somos interpretados de forma errada.
Eu peço perdão por quem eu fui quando só sabia sobreviver.
Por quem eu fui quando o amor me assustava.
Por quem eu fui quando minha defesa era afastar.
Eu peço perdão por todas às vezes que não fui compreendida e me deixei cair nos pensamentos de que talvez eu realmente não valesse tanto a pena. Por não ter interpretado da melhor forma as ações alheias, por ter sido injusta. E principalmente pelas vezes que eu preferi taxar alguém de vilão da minha estória por não compreender suas atitudes, por ser algo que eu nunca faria. E perdoe a mim mesma, por fugir das responsabilidades de cuidar de mim.
Eu entendi que independente dos meus comportamentos. Serei julgada. Crucificada. Mal interpretada. A partir disso, claro com um bom senso de não ferir ninguém, conseguir pular e voar mais alto, transitei pela liberdade de ser quem sou, de sentir o vento no meu rosto e repousar minha mente com tranquilidade. Porque ser vilã não é o fim do mundo, quando sei dos meus atos, sei da minha consciência, sei dos meus motivos, então, se querem me queimar na fogueira, eu já estou acessa.
They're burning all the witches even if you aren't one
They got their pitchforks and proof
Their receipts and reasons
So light me upI Dis Something Bad - Taylor Swift
Tradução: Eles estão queimando todas as bruxas. Mesmo que você não seja uma. Eles tem forcados e tochas. Suas provas e motivos. Então me acenda
E escolho, daqui em diante, ser abrigo.
Ser pausa.
Ser presença.
Ser a ex-vilã que se tornou guardiã de vínculos mais conscientes.
Obrigada pela leitura,
Carol Bragatto | Psicóloga (CRP 16/11065)
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Muito necessário esse texto
Que texto incrível☝️♥️